O uso de miniplacas como mecânica ortodôntica data de 1985, quando Jenner e Fitzpatrick utilizaram-na para promover a distalização do molar inferior. Isso a fim de evitar uma extração dentária. 

Desde então, a técnica vem sendo utilizada, especialmente em adultos que necessitam de movimentação dentária e não contam mais com a flexibilidade óssea das crianças.

Isto porque, ela permite a remodelação óssea necessária para tratar casos de má oclusão, sem a necessidade de extrações dentárias ou intervenções cirúrgicas, por exemplo.

Isto ocorre por conta da técnica possibilitar movimentos transversais, verticais e anteroposteriores simultâneos. Assim, essa biomecânica se torna uma alternativa versátil, ao passo que dá ao ortodontista inúmeras possibilidades de tratamento.

Além disso, o uso de miniplacas torna o resultado muito mais previsível. Há a redução do tempo de tratamento, a diminuição da incidência de extrações dentárias, além de minimizar a complexidade das cirurgias ortognáticas.

dentárias, além de minimizar a complexidade das cirurgias ortognáticas.

Sou Sérgio Pinho e vou mostrar por meio de um artigo científico que participei a aplicação prática desta incrível ferramenta. Continue comigo!

Diagnóstico ortodôntico: princípio, meio e fim do tratamento

Como vimos anteriormente, agora que você já conhece um algumas possibilidades das miniplacas, deve estar se perguntando: “como eu começo a usar esta ferramenta?” 

Antes de mais nada, é importante fazer um diagnóstico completo do seu paciente. Para isso, você precisa de de um protocolo que mostre exatamente a área de eleição para a instalação da miniplaca.

Para que pudéssemos analisar este caso, utilizamos o protocolo SYM 3D. Visto que ele proporciona uma análise craniométrica ampla. Por meio de medidas lineares e angulares, o protocolo permite que se faça uma interpretação precisa do paciente. Há também uma inter-relação tridimensional das alterações morfofuncionais com a má oclusão e a posição condilar dos pacientes. 

Dessa forma, um diagnóstico baseado em um protocolo completo, como o SYM 3D, permite não somente o equilíbrio dentário, mas também o equilíbrio, ósseo, muscular e articular, tão importantes para o correto direcionamento do caso.

Miniplacas: movimentação dentária em todos os ângulos

Enfim, agora você já sabe que um diagnóstico completo é o primeiro passo para a atingir seu objetivo de tratamento. Então veja como as miniplacas auxiliam na mecânica ortodôntica:

Quando usar a mecânica com miniplacas?

Antes de tudo, a mecânica de ancoragem esquelética – que consiste na utilização de dispositivos intra ósseos na maxila ou mandíbula é indicada para movimentos ortodônticos de alta complexidade, como: posicionar corretamente os dentes no osso alveolar e minimizar as indicações cirúrgicas. 

Do mesmo modo que são úteis para o preparo de reabilitações orais que exijam atendimento de uma equipe multidisciplinar, melhorando a eficiência no preparo destas intervenções.

Em resumo, as miniplacas permitem reorganizar as estruturas ósseas a fim de corrigir malformações que só seriam corrigidas por intervenção cirúrgica. Isso, sem prejudicar o equilíbrio articular, tão necessário para evitar as recidivas no tratamento ortodôntico.

Estudo de caso clínico com miniplacas

Com o intuito de ver a aplicação prática deste artigo, veja abaixo este caso clínico:

Distalização de dentes inferiores

Nesta paciente, para a distalização dos dentes inferiores foi planejada a inserção de duas miniplacas, assim como a extração dos terceiros molares, com o intuito de aumentar o espaço na arcada inferior e posicionar corretamente os incisivos na sínfise mandibular. 

Controle vertical

Neste caso, para o controle vertical são necessárias duas miniplacas superiores e duas inferiores, instaladas na região posterior de mandíbula e/ou maxila. Assim sendo, o controle de torque dentário é realizado por meio de fios ortodônticos retangulares, ou em alguns casos, por barra transpalatina e/ou arco lingual.

Planejamento para instalação de miniplacas
Radiografia panorâmica com o planejamento dos movimentos e localização para a instalação de miniplacas em paciente com excesso de crescimento vertical posterior maxilar e mandibular. B) Fotografia intrabucal frontal na fase pré-tratamento.

Correção dos planos oclusais superior e inferior (roll)

Só para ilustrar, as alterações nos planos oclusais superior e inferior podem apresentar envolvimento dentoalveolar direito e esquerdo. Portanto é necessário a utilização de mais miniplacas para aumentar a ancoragem. No caso ilustrado, havia um envolvimento dentoalveolar maxilar nos lados direito e esquerdo. Ambos estavam extruídos, com maior incidência do lado direito. 

Exames para identificação de assimetria esquelética
Avaliação frontal da reconstrução 3D evidenciando a assimetria esquelética e fotografia de face com  a diferença de exposição gengival do lado direito e esquerdo.

Correção dos planos oclusais superior e inferior (pitch)

Para a correção do pitch, foram instaladas duas miniplacas superiores posteriores, para promover a intrusão dos dentes posteriores e quatro miniplacas inferiores (duas anteriores e duas posteriores). 

Planejamento ortodôntico com objetivo de rotação dos planos oclusais inferior e posterior

Correção da má oclusão com auxílio da translação condilar

Neste caso, a paciente apresenta uma má oclusão de Classe I com tendência à Classe III (mandíbula com tamanho aumentado e relacionado no sentido horário) e os côndilos deslocados para anterior, mais de um lado do que de outro, como podemos ver nas imagens abaixo:

Fotografias intrabucais mostrando a má oclusão.
Fotografias intrabucais iniciais
Análise tomográfica para diagnóstico ortodôntico
Reconstrução 3D frontal e sagital, evidenciando o desvio mentoniano em relação ao plano sagital mediano.
Análise tridimensional mostrando a posição dos côndilos nas fossas articulares
Côndilos articulares deslocados para anterior nas fossas articulares, sendo que o direito encontra-se mais anterior em relação ao esquerdo. 

Resultado do tratamento com mecânica de miniplacas

Ao final do tratamento é possível observar a melhora na condição clínica da paciente:  

Telerradiografias antes de depois do tratamento com a mecânica de miniplacas
Telerradiografias laterais antes e depois do tratamento
Fotos intrabucais antes e depois do tratamento com miniplacas
Fotografias intrabucais iniciais e finais e posicionamento condilar ao início e fim do tratamento.
Imagem tomográfica mostrando o resultado da aplicação das miniplacas.
Avaliação frontal da reconstrução 3D inicial e final, mostrando a centralização do mentoniano em relação ao plano sagital mediano.

No controle vertical, os resultados mostraram uma reformatação óssea superior e inferior no sentido ântero posterior, transversal e vertical, que se manteve após cinco anos do tratamento:

Após 5 anos do tratamento com as miniplacas, percebe-se a manutenção do engrenamento oclusal
Sobreposições tomográficas pré-tratamento (em vermelho e pós-tratamento (em cinza). Fotografias intrabucais após 5 anos do tratamento atestam o bom engrenamento oclusal.

Conclusão

Em resumo, o que ficou claro neste estudo de caso é que as mecânicas com miniplacas permitem a alteração dos planos oclusais, sem que o paciente tenha que passar por uma intervenção cirúrgica. Isso se dá graças à remodelação óssea maxilar vertical sofrida durante o tratamento.

Assim, o controle do plano oclusal e a mudança na dimensão vertical durante o tratamento provoca melhora na posição mandibular e no funcionamento adequado do sistema estomatognático. Dessa forma, o controle do plano oclusal se mostra uma excelente alternativa para solucionar muitas má oclusões. 

Entretanto, a simples aplicação de ancoragem esquelética com a mecânica das miniplacas não é sinônimo de sucesso no tratamento ortodôntico. Então, um diagnóstico correto, o domínio biomecânico da técnica e o controle dos movimentos realizados são essenciais para um tratamento eficaz.

Em síntese, a mecânica ortodôntica com auxílio das miniplacas, quando respeita o posicionamento condilar, o equilíbrio muscular e uma oclusão funcional permite solucionar má oclusões, muitas das quais não seriam passíveis de tratamento por meio da mecânica de tratamento convencional. 

Por fim, a grande vantagem dessa mecânica é ampliar as possibilidades dos movimentos ortodônticos, produzindo alterações articulares, musculares, dentárias e ósseas. Por serem controladas, essas alterações proporcionam resultados estáveis a longo prazo.

Quer saber mais sobre mecânicas de ancoragem esquelética? Leia meu artigo sobre Implante dentário disponível no Blog.

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